POESIAS - PÁGINA DEDICADA A EDUCADORES


 

 PEDAÇOS DE MIM
                    Martha Medeiros
Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante


Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.

 

 

 

 

A Fazenda

                           Casimiro Cunha - do livro Cartilha Bem

O dia vem longe ainda
Fulgura o brilho estelar
Mas nos campos da fazenda
É hora de trabalhar.

O dever chama aos serviços
Da luta risonha e sã,
Na divina voz das aves
Que cantam pela manhã.

A tarefa atinge a todos
Nos roçados, no paiol,
Tufo expressa  movimento
Precedendo a luz do sol.

Ali, corta-se, acolá
Dispõe-se de novo a leira
Aqui, combate-se os vermes
Que atacam a sementeira.

Ninguém pára. Todos lutam.
Há cantares da moenda,
Contando a história do açúcar
Nos caminhos da fazenda.
              
Entretanto, seu programa
É repouso, calma e sono,
Em breve, a propriedade
Vive em trevas do abandono.

Serpentes invadem campos,
Há cipó destruidor,
O mato chega às janelas,
Procurando o lavrador.

Enquanto a enxada descansa
Esquecida enferrujada,
A casa desprotegida
Prossegue na derrocada.

Quem não vê na experiência
Tão  simples, tão conhecida,
A zona particular
Nos quadros da própria vida?
                 
Rico ou pobre, fraco ou  forte           
Não te entregues à inação,
Que a vida é a fazenda augusta
Guardada na tua mão.
 Imagem: Google
                                                                   


A BÚSSOLA
Casimiro Cunha

Na viagem rude e longa
Em região solitária
A todos os viajores
A bússola é necessária.

Quando a jornada é difícil,
Aquele que a tem, de perto,
Vai seguido confortaaado
Na bênção do rumo certo.

Soprem ventos formidandos
E a sombra prometa a morte,
A bússola honesta e firme
Não perde a visão do Norte

Muita vez, em mar revolto,
Nas zonas desconhecidas,
Atende, silenciosa,
Dando fé, salvando vidas.

Tudo angústia da borrasca
E trevas de nevoeiro,
Mas a bússola responde
Aos olhos do timoneiro.

De outras vezes, no deserto,
Se palpita a inquietação,
Traduz generosamente
O conforto e a direção.

Em meio a vacilações,
Significa o resumo
De grandes consolações
A quem ame o próprio rumo.

Tanto em água revoltada,
Como em areia, em espinho
A bússola generosa
Jamais esconde o caminho.

Nas rudes experiências
Da romagem terrenal,
Não se pode prescindir
Do rumo espiritual.

*
Se caminhas neste mundo,
Sejas moço, sejas velho,
Não esqueças, meu amigo,
A bússola do evangelho.

Imagem: Google

                                                                                                                                                                   





Ave Maria
        Fagundes Varela




Imagens: Google

A noite desce! Lentas e tristes
Cobrem as sombras a serrania
Calam-se as aves,  choram os ventos
Dizem os gênios: - Ave Maria!

Na torre estreita de pobre templo
Ressoa o sino da freguesia
Abrem-se as flores,  Vésper desponta
Cantam os anjos: - Ave Maria!

No tosco albergue de seus maiores
Onde só reinam paz e alegria                         

Entre os filhinhos o bom colono                                             
Repete as vozes: - Ave Maria!

E, longe,  na velha estrada,
Pára,  e saudades à pátria envia,
Romeiro exausto, que o céu contempla
E fala aos ermos: - Ave! Maria!

Incerto nauta por feios mares,                                                              
Onde se estende névoa sombria,
Se encosta ao mastro, descobre a fronte
Reza baixinho: - Ave Maria!

Nas soledades, sem pão nem água,
Sem pouso e tenda, sem luz nem guia,
Triste mendigo, que as praças busca,
Curva-se e clama: - Ave Maria!

Só nas alcovas, nas salas dúbias,
Nas longas mesas de longa orgia
Não diz o ímpio,  não diz o avaro,
Não diz o ingrato: - Ave Maria!

Ave! Maria!  No céu, na terra!
Luz da aliança!  Doce harmonia!
Hora divina!  Sublime estância!
Bendita sejas!  Ave Maria!

*****                                                                                                                                                        *